Zero Cáries

Já saio do escritório em cima da hora. Tenho alguma fome. Não muita, comer vai ficar para depois.
Carro. Trânsito. Impaciência. Estaciono bem pertinho, que sorte um bom lugar. Saio a correr e volto para trás à procura do fatídico parquímetro que não quero ter surpresas.
Agora sim, com 2 minutos de atraso passo a porta do consultório. Faltam portanto exactamente 58 minutos para o início da minha consulta. Dois pacientes antes da minha consulta entro na sala para levar duas anestesias locais (para além das tópicas). Sempre foi mais difícil anestesiar um dente meu do que um cavalo inteiro... Agora opto por levar duas anestesias uma hora antes para ver se custa menos.
Saio para a sala de espera. Mesmo para isso, esperar pela minha vez e pela anestesia.
Encontro a minha prima com a sua filha de quatro ano que brinca com legos. Pergunto-lhe como quem quer gozar o que veio cá fazer, se vem arrancar um dente. Responde-me infantilmente que veio fazer legos. A mãe ri-se e diz no segundo a seguir que veio acompanhar a senhora que veio fazer legos.
Sento-me e pomo-nos à conversa. A anestesia começa a fazer efeito e perco a sensibilidade e momentaneamente também os músculos, o que me deixa a cara à banda, a forma de falar estranha e a criança que brinca com legos muito bem disposta...
Vem a ajudante, mãe e filha podem entrar. Fico a partilhar a sala com outra senhora que até agora prestou muito atenção à nossa conversa, mas que agora deixou de ter o que fazer.
Pego no meu livro, que já vinha prevenida. 20 páginas para o fim. Começo a ler. Na televisão dá a Floribela. Coisa estúpida... Só oiço músicas parvas a cada 10 minutos.
Volto à leitura que rapidamente se acaba. O fim do livro não é tão bom como o resto da história. Desiludida olho em volta à procura do que fazer com o resto do tempo. Floribela ou Caras? Pego na Caras: a Merche voltou a encontrar o amor (eu cá não sabia que ela o tinha perdido), houve um Baile da Malta (foi de mas tirar o de e colocar da tem muito mais piada), uma protagonista de telenovela divorciou-se e agora está muito bem sozinha porque tem a oportunidade de se encontrar a ela própria. Uma receita de Bacalhau às lascas que parece deliciosa. Agora tenho fome. Acaba a revista. Entra nova paciente, a que estava na sala de espera. Desligo a televisão. Já não posso ouvir a Floribela que ainda por cima tem sotaque do Porto.
Agora já só espero e desespero. Com metade da cara totalmente anestesiada, não sinto uma narina, não sinto um olho, não sinto meia testa...
Desespero mais um pouco e é a minha vez. Entro, sento-me, põe-me um babete.
Abre a boca e lá vem a broca. Dor lacinante, mão no ar, cara de sofrimento. Mais duas anestesias. Paraíso. Broca entra e broca sai, sem dor. Acaba a violência e acaba também o tratamento. E já está, passou tudo...
Passo também à sala de pagamentos, a parte que dói mais!
São 20h12 quando saio para a rua, cara à banda e muita fome. Arrasto-me até casa. Às 23h30 resigno-me, a anestesia não vai passar tão cedo, a fome até já passou. Deito-me.
Acordo às 7h da manhã, tenho a bochecha dorida, afinal 4 agulhas espetadas não são pêra doce. Dói-me o dente (é normal doer até 5 dias depois do tratamento). Tomo o pequeno-almoço para o lado direito da boca que o esquerdo está intransitável.
Estou feliz, é sexta-feira, eu tenho zero cáries e hoje vou almoçar sushi para o lado direito!
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11:28 da manhã
Posted by Blogger mvs

Ena, ena, muito bom! lolol... És mesmo coisa ruim!    



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