Prometo ser feliz
Nota introdutória – as palavras que se seguem são totalmente verdadeiras e pouco usuais vindas de mim. Não sou capaz de contar esta história directamente a ninguém porque me custa partilhar lágrimas com outros. Então porquê contá-la agora? Ainda por cima para quem quiser ler? Pois, não sei. Pareceram-me a altura e local apropriados.
O avô António foi desde sempre um grande companheiro, um bom amigo e o melhor dos avôs (importa esclarecer que infelizmente não me lembro do outro avô, uma vez que morreu quando eu tinha 2 anos, mas segundo o que oiço era igualmente bestial).
O avô António foi desde sempre um grande companheiro, um bom amigo e o melhor dos avôs (importa esclarecer que infelizmente não me lembro do outro avô, uma vez que morreu quando eu tinha 2 anos, mas segundo o que oiço era igualmente bestial).
Sobretudo tive a sorte de ter um avô que era uma boa pessoa (a melhor que já conheci). O meu avô fazia gelados de café que nos refrescavam o espírito. Mostrava-nos as armas (ele era militar, nada de contrabando) sem nunca nos deixar tocar e contava-nos histórias de guerra que, apesar de serem verdadeiras, a mim só me parecia possível serem imaginadas O meu avô conseguia adormecer enquanto os semáforos estavam encarnados (às vezes acho que lhe vou seguir as pegadas). Gostava de contar anedotas, e sabia contá-las bem. Tinha um carro grande onde cabíamos todos (não se levantavam ainda as questões de segurança que se levantam actualmente sobre o transporte de crianças), e no caminho de Carcavelos - Lisboa ameaçava-nos com todo o tipo de castigos que nunca chegavam a acontecer. A única vez que me lembro de ele me ter posto de castigo, fugi. Fui condenada a uma sala no primeiro andar, onde deveria reflectir sobre os meus actos. Saí pela varanda, saltei o muro e fui dar uma volta. Quando voltei tive problemas!
Se o avô António fosse um sabor era Côte d’Or. Ele ia frequentemente à Suíça e de lá trazia os chocolates do elefante. Como trazia muitos para ter em stock, dava-nos alguns e guardava os outros pela casa. Sempre que íamos a casa dos avós, corríamos os armários e as gavetas, deslizávamos as mesas de jogo e desfazíamos pilhas de roupa engomada à procura dos chocolates que nos eram negados. O avô António sabia que nós os encontrávamos e tornava-se cúmplice do nosso crime delicioso.
Guardo dele estas memórias, presentes preciosos que me ofereceu e a estante do meu quarto. Um dos passatempos do meu avô eram construções (como dizia quando era pequena). Mesinhas de cabeceira, mesas e estantes, “construía” de tudo a pedido da família. No meu quarto tenho uma estante, feita por ele, pintada por mim, montada pelos dois. Com duas prateleiras viradas do avesso, azelhice minha e muitas gargalhadas.
No fim da sua vida o meu avô estava doente. Muito doente. Internado no hospital, eu mal o reconhecia. Visitava-o com toda a frequência que me era permitida, ainda hoje sou capaz de descrever o quarto onde ele esteve ao pormenor e se inspirar ainda o consigo cheirar. Lembro-me bem do dia em que ele morreu. Foi o pior dia da minha vida, que hoje me custa lembrar e partilhar.
Numa das minhas visitas ao hospital, nessa fase final, eu sentei-me ao lado da cama e agarrei a mão do meu avô. Esta situação era habitual e sempre rodeada de silêncio. Ele não falava muito porque lhe custava, eu não falava nada porque me doía o seu silêncio. Nesse dia ele disse-me:
- Promete-me que vais ser feliz.
Prometi-lhe que sim. Que ia ser. Não tive forças para dizer mais.
Avô, vivi há quatro anos o pior dia da minha vida, e quero dizer-lhe hoje, com lágrimas de saudades nos olhos, que tenho sido e vou continuar a ser (sempre que conseguir) feliz!
Guardo dele estas memórias, presentes preciosos que me ofereceu e a estante do meu quarto. Um dos passatempos do meu avô eram construções (como dizia quando era pequena). Mesinhas de cabeceira, mesas e estantes, “construía” de tudo a pedido da família. No meu quarto tenho uma estante, feita por ele, pintada por mim, montada pelos dois. Com duas prateleiras viradas do avesso, azelhice minha e muitas gargalhadas.
No fim da sua vida o meu avô estava doente. Muito doente. Internado no hospital, eu mal o reconhecia. Visitava-o com toda a frequência que me era permitida, ainda hoje sou capaz de descrever o quarto onde ele esteve ao pormenor e se inspirar ainda o consigo cheirar. Lembro-me bem do dia em que ele morreu. Foi o pior dia da minha vida, que hoje me custa lembrar e partilhar.
Numa das minhas visitas ao hospital, nessa fase final, eu sentei-me ao lado da cama e agarrei a mão do meu avô. Esta situação era habitual e sempre rodeada de silêncio. Ele não falava muito porque lhe custava, eu não falava nada porque me doía o seu silêncio. Nesse dia ele disse-me:
- Promete-me que vais ser feliz.
Prometi-lhe que sim. Que ia ser. Não tive forças para dizer mais.
Avô, vivi há quatro anos o pior dia da minha vida, e quero dizer-lhe hoje, com lágrimas de saudades nos olhos, que tenho sido e vou continuar a ser (sempre que conseguir) feliz!
Posted by mvs
E o STRA está cá para se assegurar de isso mesmo!!!!!!
5:44 da tarde
Posted by Ana
...e acrescentar, que não só és feliz, como fazes felizes os que estão contigo!
5:53 da tarde
Posted by MCF
E com amizades destas não há como não cumprir a promessa...
11:15 da manhã
Posted by mvs
Ou seja, tudo isto para dizer que há quatro anos fizemos frequência de história das ideias e das instituições.
11:56 da manhã
Posted by MCF
Correcção, vocês fizeram! Eu fiz uma oral nos dias seguintes... A minha primeira (e única) oral!
10:40 da tarde
Posted by mvs
Correcto e afirmativo.
12:06 da tarde
Posted by Ca
com o sardica, uma oral...deve ter sido um prazer!
Apesar de tudo, resta me apenas dizer que esse texto está lindo!
2:08 da tarde
Posted by MCF
Uma oral com o Sardica tem sempre muito que se lhe diga... Mas passei, e com boa nota, para que conste!
Ehhhhh, obrigada pelo elogio!
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